O Serviço de Atendimento Domiciliar funciona em formato de plantão das 7h da manhã até as 19h, levando conforto às famílias e pacientes que necessitam de internação hospitalar, mas se sentem melhor no ambiente acolhedor do seu próprio lar
A rotina é intensa para dar conta de tantos pacientes. São incontáveis curativos para renovar, medicamentos com hora marcada e que não podem ser esquecidos, controle nutricional com suplementação capazes de devolver não somente o peso ideal, mas também um sorriso no rosto. O alívio da dor. Profissionais que fazem parte da equipe do SAD – Serviço de Atendimento Domiciliar são considerados verdadeiros anjos na vida de quem está acamado.
O SAD, instituído em Lages desde 2019 através do programa federal Melhor em Casa, gerido pela Secretaria Municipal da Saúde, funciona em formato de plantão das 7h da manhã até as 19h, levando conforto às famílias e pacientes que necessitam de internação hospitalar, mas se sentem muito melhor no ambiente acolhedor do seu próprio lar e optam pela internação domiciliar.
São duas equipes de assistência, composta por médico, enfermeiro, técnico de enfermagem e fisioterapeuta, e também uma equipe de apoio com assistente social, psicólogo e nutricionista, para atender a demanda. O acompanhamento do paciente é no mínimo semanal, de acordo com a avaliação da equipe e a necessidade do paciente, podendo ser de até duas vezes ao dia quando precisa da aplicação de medicamentos de 12h em 12h. As equipes se revezam no atendimento de cada paciente cadastrado, e se desdobram para que todos recebam a devida atenção diariamente.
O acompanhamento é temporário, seguindo a Portaria 825 de 25 de abril de 2016 que determina que o atendimento seja de até 180 dias. O objetivo é fazer um revezamento com outros pacientes, que também necessitam deste auxílio. O tempo de permanência no programa é relativo, conforme a necessidade de cada paciente, alguns conseguindo ter alta antes, enquanto outros ficam por um período maior.
A alta clínica acontece por melhora, adaptação da família, ou mudança de endereço, após a internação hospitalar ou quando o paciente vai a óbito durante o acompanhamento do SAD. “Muitos pacientes retornam várias vezes. São admitidos no programa, apresentam uma melhora, são liberados e depois de algum tempo a situação se agrava e acabam voltando para o atendimento”, explica a coordenadora do SAD/Lages, Fabiana Padilha da Silva.
Vocação para salvar vidas
O senhor João Lemos Pereira, de 86 anos, morador do bairro Penha, sofre com a doença de Alzheimer e está acamado há muitos anos. E justamente por permanecer muito tempo deitado, surgiram lesões por pressão (ferimentos profundos devido a permanência por longo período na mesma posição), que acaba infeccionando. A equipe do SAD foi acionada e ele passou a receber visitas semanais em seu domicílio para a troca de curativos e aplicação de antibióticos, além do acompanhamento da dieta por suplementos, já que sua alimentação é via sonda nasogástrica.
Na casa ele mora com mais sete pessoas. Duas delas são meninas com idades de 11 e 17 anos com necessidades especiais (uma foi diagnosticada com autismo leve e a mais velha autismo severo, desde os quatro anos de idade). Dentre tantas dificuldades, é a nora, Nadir Ribeiro Lemos Pereira, quem cuida de tudo. Ela deixou de trabalhar fora para atuar como cuidadora. “Não é fácil. Mesmo com dez filhos, ele iria para o asilo e resolvemos trazê-lo para casa. Além dos cuidados com ele, temos uma rotina pesada com as meninas especiais que incluem fisioterapias, aulas na Apae e medicação. A mais velha tem dias que está calma, e outros mais agressiva, tem que saber lidar com ela e entender o que está se passando. Se não fosse a equipe do SAD nos ajudar com seu João, não sei o que seria de nós. Já é a terceira vez que recebemos ajuda”, relata dona Nadir.
A nutricionista da equipe, Viviane Ribeiro Krebs, conta que ao chegar ali o paciente se encontrava muito debilitado, pois uma alimentação via sonda não é de fácil manuseio. Desde então, toda semana são entregues à família os suplementos nutricionais com proteína e passadas todas as orientações. “O estado dele era muito delicado, as costelas apareciam de tão magro. Agora está mais forte, conseguimos recuperar o peso, e isso ajuda em tudo, inclusive na melhora das lesões”, comenta a nutricionista.
A intervenção da equipe do SAD realmente salva vidas. São inúmeros relatos de situações complicadas, em que a vida das pessoas corriam risco e foram recuperadas. “Existem muitos casos de negligência das famílias, principalmente com idosos e crianças. Uma vez fomos encaminhados à uma residência em que uma senhora acamada estava totalmente desnutrida, pesando apenas 28 quilos. Acompanhamos essa paciente até ela se recuperar. Teve outra situação em que salvamos uma criança de apenas três meses de idade que tinha uma síndrome rara e precisava de cuidados especiais. Os pais não tinham condições cognitivas de cuidar desta criança e conseguimos encaminhá-la judicialmente para a adoção. Hoje ela tem uma família que irá cuidar dela. Em outro caso uma senhora escondia da família uma ferida na cabeça que foi se agravando, até chegar ao ponto de não ter mais a parte óssea de cima. A ferida tomou conta do crânio. É um trabalho gratificante, que até nos emociona. Só trabalha no SAD quem realmente tem vocação”, relata a coordenadora Fabiana.
O SAD conta com uma gama de curativos de alta tecnologia com maior durabilidade e menor chance de contaminação, evitando infecções e agilizando a cicatrização, facilitando a rotina, tanto das famílias dos pacientes quanto das equipes técnicas. “Hoje temos curativos que somente uma rede particular poderia oferecer aos pacientes”, enfatiza.
Cuidados especiais para aliviar a dor e o sofrimento
A missão do SAD é oferecer cuidado integral ao paciente e familiar/cuidador com controle de sintomas, alívio da dor em sua totalidade e respeitando o curso natural da vida.
Muitos pacientes estão em cuidados paliativos e preferem permanecer em casa, com o apoio da família. “Se o paciente está com a dor controlada, e isso engloba também a parte emocional, eles preferem ficar no seu lar. Já fizemos muitos cuidados paliativos que foram emocionantes. Teve um caso em que a família nos envolveu numa corrente de oração e canto na hora que o paciente estava partindo. Conseguimos dar muito mais que um suporte na área da saúde, mas também humanizar, dar mais qualidade de vida e conforto para essas pessoas que passam por este sofrimento”, relata Fabiana.
Qual é a porta de entrada para o SAD?
Os pacientes atendidos são provenientes principalmente de hospitais, das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Unidade de Pronto Atendimento (UPA). “É importante lembrar que, mesmo que o paciente esteja sendo acompanhado pelo SAD, ele não deixa em hipótese alguma de pertencer à Unidade de Saúde. Somente passa a ser acompanhado pela equipe quando a situação tem um agravamento, com um quadro agudo e precisa de um internamento domiciliar, como em casos de um AVC, feridas que precisam de curativos, insuficiência respiratória, desnutrição, afecções agudas, entre outros casos graves. Pacientes acamados crônicos, mas que estão estabilizados, permanecem sendo atendidos pela Atenção Básica, que é oferecida pela Unidade de Saúde, e um serviço complementa o outro”, salienta a coordenadora.
A capacidade de atendimento é de até 60 pacientes por mês, com rotatividade após o recebimento da alta. Muitos pacientes residem no interior, necessitando do deslocamento da equipe até o local.
A atenção domiciliar está dividida em três grupos. Existe um quadro de cuidados com menor freqüência e o acompanhamento é feito pela Atenção Básica; outro em que exige uma equipe multiprofissional com maior freqüência e complexidade, sendo acompanhado pelo SAD e o terceiro grupo que integra pacientes em qualquer uma das situações mencionadas, agregando procedimentos de maior complexidade, como por exemplo ventilação mecânica, paracentese de repetição, antibioticoterapia injetável, que também são acompanhados pelo SAD.
Texto: Aline Tives
Fotos: Toninho Vieira