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Rede Cegonha reduz taxa de mortalidade infantil em Lages e região expressivamente em seis anos de implantação
13/05/2019
Texto: Daniele Mendes de Melo / Fotos: Rede Cegonha/Divulgação

No início da Rede Cegonha, em 2014, quando tinha apenas um ano, a taxa era de 17,41% na Serra e 15,79% em Lages. Desde a implantação, em Lages já baixou 5,99%. Hoje está em 9,8%

Uma estratégia ministerial da Saúde para estruturar e organizar a assistência materna-infantil no país, a Rede Cegonha tem o intuito de garantir atendimento humanizado a todas as mulheres. Está inserida na discussão de Rede de Atenção em Saúde (RAS), que tem como objetivo promover a integração das ações e serviços de saúde para possibilitar uma atenção eficiente e de qualidade em todos os pontos de atenção, com foco na satisfação dos usuários, e a melhoria dos indicadores de morbimortalidade materno-infantil.

Em 2013 a Rede Cegonha foi implantada na Serra Catarinense por meio de um Plano Regional, e depois em cada município via Sispart, formando assim o grupo condutor e habilitando serviços como pré-natal de risco habitual, pré-natal de alto risco, assistência ao puerpério, neonatologia, leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) obstétrico, sala de parto e leito canguru.

Há 23 anos, a taxa de mortalidade infantil em Lages e região era alarmante, contudo, com a implantação e implementação de medidas modernas de apoio e prevenção quando o bebê ainda está na barriga da mãe, os números estão sendo revertidos gradualmente. A Rede Cegonha teve papel crucial neste processo. Atualmente está em 12,98 na Serra, uma diminuição amplamente significativa. Saiu-se de quase 19 a cada mil nascidos vivos.

Em Lages, no ano de 1996 a taxa era de 26,97%, 98 óbitos por mil nascidos vivos. A taxa atual é de 9,8, segundo o DataSUS/Tabwin, sendo uma grande conquista, “pois a cada ano que fomos reduzindo a mortalidade foi mais uma vida que conseguimos assegurar. Desta forma, o amor de alguém está nos braços de sua família”, comemora a coordenadora da Rede Cegonha Serra Catarinense, Daniela Rosa de Oliveira. Em 2017 a taxa era de 14,33% na Serra e 11,24% em Lages. No início da Rede Cegonha, em 2014, quando tinha apenas um ano, a taxa era de 17,41% na Serra e 15,79% em Lages. Desde a implantação, em Lages já baixou 5,99%. “Nunca os índices de Lages e região estiveram tão baixos. A mortalidade infantil interfere no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), ou seja, mortalidade baixa significa aumento do desenvolvimento. Em 23 anos jamais se chegou a um dígito, como ocorreu com Lages agora”, enfatiza a coordenadora, enaltecendo que, “além do trabalho da equipe e do Comitê de Mortalidade e de Transmissão Vertical, este resultado se deve ao grande movimento desempenhado pelos profissionais da Saúde no pré-natal e parto da região, ampliando a qualidade e reduzindo cada vez mais estes lamentáveis números”. A secretária da Saúde, Odila Waldrich, pontua: “É um serviço incessante e que depende de técnica aliada à sensibilidade e afeto. Os servidores estão totalmente preparados para bem atender à população.”

O problema da mortalidade infantil era corriqueiro porque antes apenas se discutia o indicador, ou seja, a taxa. A partir do momento em que se começou a traçar uma política pública no fortalecimento regional e municipal, entendendo as causas da mortalidade, é que foi estabelecida uma rede de trabalho forte e efetiva, fluxos, protocolos e metas.

Em 2019 a Rede Cegonha completa seis anos de existência, trabalho e luta para melhorar a assistência do binômio mãe - bebê. É desenvolvido em todo o país, mas em Lages há um diferencial. “Vivemos à sombra da mortalidade infantil há anos. A grande inspiração partiu do território vivo. Em 2015, sempre preocupados com o alto índice de mortalidade infantil da Serra Catarinense, estabeleceu-se um diagnóstico a partir de uma rede explicativa do problema, com vários nós críticos, entre eles, a necessidade de fortalecer o pré-natal na Atenção Básica em todos os municípios da região”, recorda Daniela.

A coordenadora lembra que para dar a característica plural e descentralizada que as ações demandavam, formou-se o Grupo Condutor da Rede Cegonha Serra Catarinense, propondo projetos e ações para o enfrentamento dos problemas identificados por um processo situacional. “Neste sentido, elaborou-se uma proposta para qualificar os profissionais da Atenção Básica, rede hospitalar e de urgência e emergência dos 18 municípios da região. A inspiração vem do afeto estabelecido em cada conquista, em cada gestação segura e puerpério de qualidade, uma vida salva.”

 

Trabalho de oito anos em Santa Catarina

 

De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde, o trabalho de implantação da Rede Cegonha iniciou em 2011, contando com representantes da Secretaria de Estado da Saúde, das Gerências Regionais de Saúde, do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Santa Catarina e do Conselho Estadual de Saúde. A partir de agosto de 2013, Santa Catarina passou a contar com 16 Planos de Ação da Rede Cegonha aprovados pelo Ministério da Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo a primeira Rede de Atenção à Saúde com cobertura estadual integral e a primeira Rede Cegonha com cobertura estadual no Brasil. 

 

Lages e Serra: Referência estadual

 

O trabalho da Rede Cegonha em Lages é desenvolvido semanalmente, por meio de educação permanente; visitas técnicas às equipes de Saúde; elaboração de protocolos assistenciais, guias, manuais de instruções e fluxos de acesso, e organização de fóruns, oficinas e seminários. “Nós nos tornamos referência para o Estado de Santa Catarina. Temos o único Protocolo Regional de Assistência ao Pré-natal e Puerpério (nível regional) do Estado. Temos destaque na ampliação dos testes rápidos, pré-natal desenvolvido por todos os profissionais, acompanhamento dos Agentes Comunitários de Saúde (ACSs), consultas médica e de enfermagem, consultas compartilhadas, pré-natal odontológico, pré-natal do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf), grupos de gestantes, pré-natal do parceiro, pré-natal domiciliar, visitas domiciliares de puerpério e puericultura, ente outros serviços. Ofertamos o pré-natal mais completo e fortalecido, e tudo pelo SUS”, justifica Daniela.

A própria equipe confecciona o material didático para apoiar os profissionais nas qualificações. No dia 29 de maio será promovido um seminário de experiências exitosas dos seis anos da Rede Cegonha, quando as equipes irão apreender relatos. As vagas de inscrição já encerraram a quase um mês do evento em razão da grande procura.

Existem três câmaras técnicas que atuam no município de Lages e região: Rede Cegonha; Transmissão Vertical e o Comitê de Prevenção dos Óbitos Infantil, Fetal e Materno. Atualmente estas três câmaras técnicas foram unificadas, criando-se um grupo ampliado com o propósito de trabalhar de forma integrada, melhorando a qualidade da gestão e dos índices de morbimortalidade materno-infantil.

 

Público-alvo da Rede Cegonha

 

O principal público são as gestantes e seu parceiro, puérperas e bebês a fim de garantir assistência e cuidado longitudinal de qualidade. Há investimentos nos profissionais da Saúde da Atenção Básica, rede hospitalar e especializada, como enfermeiros, enfermeiros obstetras, médicos da família e obstetras, cirurgião dentista, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, educadores físicos, nutricionistas, técnicos de enfermagem, técnicos e auxiliares de saúde bucal, Agentes Comunitários de Saúde (ACSs), e coordenadores e gestores de saúde. “Além de buscarmos uma rede intersetorial, como educação, assistência social, Conselho Tutelar e Ministério Público (MP) como aliados nesta causa.” Já foram beneficiados mais de 1.350 profissionais da Saúde, além de todas as gestantes da região e seus bebês.

A Rede Cegonha Serra Catarinense atua nos 18 municípios  (Anita Garibaldi, Bom Jardim da Serra, Bocaina do Sul, Bom Retiro, Campo Belo do Sul, Capão Alto, Cerro Negro, Correia Pinto, Painel, Palmeira, Ponte Alta, Rio Rufino, Otacílio Costa, Lages, São José do Cerrito, São Joaquim, Urubici e Urupema). Neste último ano a atuação é mais intensa em Lages. Fazem parte 13 profissionais, entre enfermeiras, enfermeiras obstetras, médica, cirurgião dentista, psicóloga e assistente social. A vice-coordenadora da Rede Cegonha Serra é Nayara Alano Moraes, e a coordenadora da Rede Cegonha no Hospital Tereza Ramos é Ludimara Oliveira Rosa.

A coordenação está localizada na Secretaria Municipal da Saúde, na Praça Leoberto Leal. O grupo se reúne no Centro de Estudo e Assistência à Saúde da Mulher (Ceasm), Hospital Infantil Seara do Bem (Hisb), e na Regional ou realiza visitas técnicas nos municípios junto às equipes. O contato é redecegonhaserracatarinense@gmail.com.

 

Repasse para subsídio

 

O Governo Federal financia a Rede Cegonha a nível hospitalar, para assistência alto risco, neonatologia e ao parto, e parte para os exames, contudo, na sua grande maioria, no que cabe ao pré-natal, quem financia as ações são os municípios. “E é no pré-natal que garantimos parte da redução de mortalidade infantil, por isto nosso maior esforço foi fazer com que todos os profissionais ampliassem seu escopo na qualidade à assistência, cuidado, prevenção e promoção da saúde. Neste sentido fomos premiados três vezes, sendo pelo Inovasus, no eixo de educação permanente, promovido pela Organização Pan-Americana da Saúde e Ministério da Saúde (OPAS e MS); Laboratório de Inovação em Educação em Saúde, entre as 30 melhores experiências do Brasil, também promovido pela OPAS e MS, e Boas Práticas em Saúde no Estado de Santa Catarina, realizado pela Udesc Esag”, celebra Daniela.

 

Contribuição da prefeitura

 

Além de liberar os profissionais semanalmente à Rede Cegonha para atuarem no município e região, Lages incentiva as ações e adere aos protocolos, bem como financia os exames, consultas e encaminhamentos das gestantes e bebês do município de Lages. É em Lages que se concentra a rede de serviços especializados de alto risco, neonatologia e maternidade.  

 

Incidência maior em meninos

 

A ocorrência de mortalidade infantil é maior em meninos. Como uma das causas que levam ao óbito está relacionada à prematuridade (antes das 37 semanas), os meninos tendem a ter a maturação pulmonar tardia, o que pode levar ao óbito não somente por esta fragilidade, mas por outros fatores inerentes à imaturidade pulmonar, como maiores chances de infecção respiratória.

Um fator que parece ser relevante para atenuar ou agravar problemas de desenvolvimento em bebês prematuros e de baixo peso é o gênero do bebê. Estudos oriundos de acompanhamentos de bebês de muito baixo peso (abaixo de 1.500 gramas) apontam uma mortalidade maior para meninos que para meninas.

Os meninos são mais vulneráveis a alterações pré e perinatais. São abortados espontaneamente com mais frequência, apresentam mais intercorrências durante o parto e mais malformações congênitas. Além disto, entre os bebês que sofrem complicações ao nascer, morrem mais meninos que meninas, tanto no momento do parto quanto nos primeiros anos de vida. Os autores descreveram, também, a presença de fatores perinatais associados com morbidade de bebês prematuros com idade corrigida, abaixo de 30 meses.


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